domingo, 29 de março de 2015

Sindrome de Lex Luthor

Pelo pouco que li sobre a queda do avião da Germanwings provocada pelo copiloto Andreas Lubitz posso afirmar que ele sofria de um mal cultural que venho notado surgir em nossa sociedade: Sindrome de Lex Luthor.


Para Ayn Rand, valores como compaixão são na verdade interesses.

O objetivo do Übermensch deve ser o poder. Será mesmo? Mas o quanto a perfeição pode ser relativa? Certamente a violência não é algo interessante.


Quando era criança, todos os meus colegas gostavam do super herói super-homem. Mas atualmente, venho notando que muitos, mas muitos mesmo, depreciam o personagem por um motivo raso: A existência de um super-homem desestimula os outros a quererem progredir, pois estes sentem que tal patamar seja impossível. Infelizmente esse pensamento derrotista e egoísta não tem ocorrido apenas nas histórias dos heróis fantásticos. Isso tem ocorrido em nossa sociedade por vários motivos. Seja por alguém ser mais rico, bonito, inteligente, forte ou qualquer outro atributo de valor relativo, vai despertar a inveja de alguém. Não dá pra agradar a gregos e troianos.

Vivemos em usa sociedade que é altamente estimulada a competir. Mas o que se pode esperar de uma cultura highlander que afirma que "só pode haver um"? É de se esperar que alguns sedentos por poder sentirão raiva por não conseguirem realizar o que sonham e, dependendo do caráter, poderão até promover um tipo de "vingança".

Este tipo de argumentação rasa e aterrorizante talvez possa ser melhor exemplificada neste filme:
http://omelete.uol.com.br/filmes/amadeus/
http://en.wikiquote.org/wiki/Amadeus



Tradução:
Antônio Salieri, Jogando o crucifixo na fogueira diz ao cristo:
Agora nos somos inimigos... Pois você escolheu como seu instrumento um arrogante, promíscuo, sujo, garoto infantil e me deu em troca a capacidade de reconhecer sua encarnação. E por você ser injusto, desleal e cruel eu vou rejeitá-lo... Eu juro! Eu vou machucar sua criatura tanto quanto eu for capaz. Eu vou destruir sua encarnação.


Comumente vemos extravasões publicas de inconformação por derrotas, como por exemplo o caso da segunda colocada que arranca a coroa da vencedora num concurso entre misses. É possível que a primeira colocada se gabasse diante da segunda colocada, mas mesmo assim devemos ter autocontrole. As pessoas que se sentem inferiores ou que gostam de se gabar deveriam conhecer a filosofia Kyokushin.

Garyu (卧 竜) significa dragão reclinável. Filosofia japonesa diz que um grande homem, que permanece na obscuridade é chamado de Garyu. Um dragão é todo-poderoso, mas um dragão reclináveis opta por não mostrar seu poder de mera vaidade, mas a menos que seja realmente necessário. Da mesma forma, um karateca verdadeiro não se gabar ou mostrar suas habilidades, ele / ela nunca se esquece da verdadeira virtude da humildade.
(Fonte: http://www.seishinkyokushin.com.br/seishin-kyokushin/programa-tecnico/kata-kyokushin-seishin/kyokushin-kata-teoria/)

Segundo a namorada de Andreas Lubitz, ele afirmou que Um dia faria algo que mudaria todo o sistema, e que todos saberiam seu nome.

Mas que bela forma de ser lembrado, hein? Para um derrotado, alguém que faz uma merda destas, gostaria de saber porque não gosta do super-homem.


Essa cultura Highlander combina com um trecho do texto de Saint-Exupery que faço questão de traduzir aqui:

Aqui, no final das paginas deste livro, eu me lembro novamente daqueles funcionários públicos envelhecidos que nos escoltavam no ônibus quando nos propusemos a voar para levar suas primeiras correspondências, quando nos preparávamos para nos tornarmos homens. Nós quem tivemos a sorte de sermos chamados. Aquela massa foi amassada do mesmo barro que o resto de nós, mas eles não sabiam que tinham fome.

Para atingir o estado de Homem, não é necessário entregar-se a si mesmo à morte nos arredores de Madri, ou pilotar os aviões dos correios, ou lutar na neve até a exaustão sem respeito pela dignidade da vida. O homem que pode ver o milagre em um poema, sentir a pura alegria de uma musica, que pode partir seu pão com os companheiros, que abre suas janelas para o mesmo vento refrescante do mar, também aprende a língua dos homens.

Mas também muitos homens são deixados desacordados.

A alguns anos atrás, em uma longa viagem de trem, fui repentinamente apoderado de um desejo de fazer um tour pelo pequeno país ao qual estava sujeito por 3 dias, balançando naquele chacoalhar que era como o som de pedras rolando e rolando pelas ondas, e eu levantei-me de minha cabine. Era uma da manhã quando atravessei todo o vagão. Os vagões dormitórios estavam vazios. A primeira classe estava também estava vazia, e tudo fazia lembrar-me dos luxuosos hotéis da Riviera que abrem no inverno para um único convidado, o último representante de uma fauna extinta. Um sinal dos tempos amargos. Mas os carros de terceira classe estavam lotados com centenas de trabalhadores poloneses mandados pra casa vindos da França. Eu caminhava lentamente, saltando de fininho os corpos adormecidos espalhados pelo chão. Entre as luzes do lampião, nos compartimentos simples e desconfortáveis eu observava uma confusa massa de pessoas balançando pelo trem. 
Tudo aquilo que eu via cheirava como uma cela de presídio. Toda uma nação que voltava para a pobreza de onde vieram estavam espalhados lá em um mar de sonhos ruim. Grandes cabeças raspadas rolavam nas almofadas dos bancos. Homens, mulheres, crianças, todos balançavam da direita para a esquerda, como se estivessem incomodados com todos aqueles movimentos e barulhos que atrapalhavam seus sonos, seus esquecimentos. Não tinham o conforto de um bom sono.

Olhando para eles eu dizia a mim mesmo que eles tinham perdido metade de suas qualidades humanas. Aquelas pessoas foram massacradas de um extremo ao outro da Europa pelas correntezas da economia. Eles foram arrancados de suas pequenas casas no norte da França, de seus pequenos jardins, seus três potes de gerânios, que sempre estiveram nas janelas das famílias dos mineiros poloneses.

Eu vi deitado ao lado deles potes e panelas, cobertores, cortinas, em feixes mal amarrados. Tudo o que tinham acariciado ou amado na França, tudo o que tinham criado ou domesticado, nestes 4 ou 5 anos em meu país, eles tiveram que deixar. Levavam apenas alguns utensílios de cozinha, dois ou três cobertores, uma cortina ou algo assim.

Um bebê deitado no peito de sua mãe cansada parecia dormir. A vida estava sendo transmitida no meio da desordem desta jornada. Vi o pai. Um crânio poderoso nu como uma pedra. Um corpo curvado no sono desconfortável, preso em suas roupas de trabalho. Parecia um monte de barro.

E eu pensei: o problema não estava na sua pobreza, nem nessa sujeira, nem nessa feiúra. Esse mesmo homem e essa mesma mulher se conheceram um dia. Esse o homem deve ter sorrido para esta a mulher. Ele talvez tenha levado flores para ela depois do trabalho, tímido e envergonhado talvez temesse ser rejeitado, mas a mulher, vendo um flerte diferente, teve certeza do próprio charme e teve prazer em provocá-lo. E este homem que agora é nada mais que uma maquina de bater picareta ou marreta, deve ter sentido em seu coração uma deliciosa angustia. O mistério é: como eles se tornaram neste monte de barro?

Por qual terrível molde eles passaram? O que foi que marcaram eles assim como se tivessem passado por uma prensa? Um cervo, uma gazela, qualquer animal que envelhece, preserva a sua graça. O que é que corrompe esta maravilhosa argila da qual o homem é amassado?

Eu caminhei no meio dessas pessoas cujos sonos eram tão sinistros como um antro do mal. Um barulho vago flutuava no ar feito de roncos barulhentos, gemidos obscuros, e a raspagem dos tamancos dos seus donos que buscam conforto virando-se de um lado para o outro, sempre acompanhados do mudo som das pedras que rolavam e rolavam pelas ondas.

Eu me sentei frente a frente com um casal. Entre o homem e a mulher uma criança vira-se e volta a dormir. Ela volta ao seu sono e na luz do lampião eu pude ver sua face. Que adorável rosto! Um fruto dourado nasceu desses trabalhadores. Acima desta preguiçosa escória havia rompido este milagre de alegria e graça.

Inclinei-me sobre a fronte lisa, sobre aquele beicinho, E disse para mim mesmo: Este é o rosto de um músico, este é um Mozart criança. Esta é uma vida cheia de belas promessas. Pequenos príncipes em lendas não são diferentes deste. Protegido, abrigado, cultivado, o que não poderia ser este menino?

Quando por mutação uma nova rosa nasce em um jardim, todos os jardineiros se regozijam. A rosa é isolada, é cultivada, é favorecida. Mas não há jardineiros para os homens. Mozart criança como os outros está condenada à mesma máquina de moldar homens.

Este pequeno Mozart vai adorar péssimas músicas no fedor das profundezas noturnas. Este pequeno Mozart está condenado.

De volta ao meu vagão, pensei: Este povo não sofre pelo próprio destino. Não é um impulso para a caridade que tem me perturbado assim. Não choro sobre feridas eternamente abertas. Aqueles que carregam a ferida não a sentem mais. É a raça humana e não o indivíduo que está ferido e indignado aqui.

Eu não acredito na pena. O que me atormentou nesta noite é o ponto de vista do jardineiro. O que me atormenta não é esta pobreza que, afinal, um homem pode acostumar-se tão facilmente como a preguiça. Gerações de orientais vivem na imundície e a amam. O que me atormenta não são as corcundas, depressões ou a feiúra. É a visão de que em todos esses homens existe um Mozart assassinado.


Só o espírito, soprado sobre a argila, pode criar o homem.


(Fote: http://www.wesjones.com/wind%20sand%20stars/wind%20sand%20stars%20-%2010%20-%20conclusion.xml)


"A justiça sem poder é vazia. Mas o poder sem a justiça é apenas violência."
(Oyama - O Lutador Lendário)



Outras fontes:

Entre a Foice e o Martelo:
http://www.fanboy.com.br/modules.php?name=Sections&op=viewarticle&artid=105

Kyokushin:
http://www.kyokushin-brasil.com.br/index.php?reg=229&doc=44
http://pt.wikipedia.org/wiki/Kyokushin

Sugiro verem o que Mário Sério Cortela diz sobre: A Diferença Entre uma Mostra e Um Concurso



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